Sem título

Pedro Bello
2 min readJul 16, 2021

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Acho que nunca me perguntaram qual seria meu romance nacional favorito. Eis aí um pequeno trauma, pois eu adoraria que me fizessem essa pergunta. Vivo a imaginar que estou cercado de curiosos que me perguntam sobre todas as coisas: livros, canções, poemas, teoremas, filosofias, etc. Vou respondendo, um a um, e com cada resposta vou compartilhando as impressões que a vida me deixou, transformando memórias em sabedoria e justificando assim a minha existência.

Contudo, os curiosos não me cercam e eu fico sozinho com as minhas impressões — e que assim seja! Não tenho dúvidas de que se os curiosos se amontoassem de fato ao meu redor, eu tentaria escapar-lhes a qualquer custo. Que aborrecido seria ter de apenas me doar a quem quer tudo de mão beijada! Não… que fiquem limitados à minha imaginação. Ali, fazem-me a falta que, existindo, jamais me fariam.

E como essa falta não é apenas imaginada, mas sentida realmente, eu preciso compensá-la de algum modo: portanto, eu escrevo. Vou escrevendo para curar uma solidão incurável. Cada texto é como uma dose de morfina…

Mas sei que um texto não se reduz a isso. Lembro-me do dia em que um amigo veio me agradecer por algo que eu escrevera cinco anos antes. Era um extenso e-mail sobre um tema técnico que eu enviara para um grupo de estudos quando ainda estava na faculdade. O texto era complicado e na época em que fora escrito não havia causado repercussão. Porém, cinco anos depois, aquele amigo o estava lendo e tirando dele algum proveito.

Isso me basta.

Um texto não é apenas um remédio provisório para a solidão ou um beijo que dou na minha própria vaidade. Um texto é também uma semente que é lançada ao mundo e que pode germinar sabe-se lá onde ou quando… Quero pensar que é também por isso que escrevo.

O pior é que toda essa confissão veio apenas porque queria falar de meu romance nacional favorito. Ou melhor, eu apenas usaria este romance como entrada para falar sobre um grande nome da MPB…

Agora não dá mais e fica para depois.

Acabou que este texto não passou de um simples devaneio, mas espero ter dito alguma coisa. Ou será que não disse nada?

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